///-PÓS-GRADUAÇÃO EM RELIGIÃO pela POSEAD, Brasília - DF. ///-SUPERIOR EM TEOLOGIA PELA 'FE - FACULDADE EVANGÉLICA' de Brasília - DF. ///-BACHAREL EM TEOLOGIA PELA 'FATAD/IESE. ///-INTEGRANTE DA OMEGA: Ordem dos Ministros Evangélicos da Grande América, ONU
Radio Shalon Online
sábado, 25 de janeiro de 2014
O Mundo da Bíblia Hebraica - Geografia física e econômica
2. ( Dedico este profundo Estudo aos amigos Reuel Bernardino, Pr. Cesino Bernardino, GMUH, CPAD, Pr. Marco Feliciano.
O mundo da Bíblia Hebraica
7. Geografia física e econômica
A terra imediata da Bíblia — conhecida como Canaã, Israel, ou Palestina — limitava com o mar Mediterrâneo oriental. Foi aqui, numa área não mais de 150 milhas do norte ao sul e 75 milhas de oeste a leste, que a maior parte da Bíblia Hebraica foi escrita e a maioria dos acontecimentos por ela relatados aconteceram. Geográfica e historicamente, entretanto, esta terra do coração da Bíblia era meramente uma pequena parte de extensa área conhecida hoje como o Oriente Médio e, na sua primitiva história, caracterizada geralmente como o antigo Oriente Próximo. O antigo Oriente Próximo abarcava a Ásia do sudoeste junto com seções menores da África do nordeste e a Europa do sudeste, onde três massas de terra continental se encontravam em contornos moldados por grandes massas de água. É o conjunto deste antigo Oriente Próximo que forma os horizontes próprios do Israel bíblico.
7.1. O antigo Oriente Próximo
A região pertinente a uma compreensão de geografia bíblica estende-se do oeste para leste aproximadamente duas mil milhas desde a costa do mar Egeu da Turquia até as montanhas Hindu Kush do Afeganistão. De norte a sul, uma distância quase semelhante estende-se desde os montes Cáucaso entre os mares Negro e Cáspio até a ponta sudoeste da península Arábica. Contudo, o antigo Oriente Próximo não se compunha de um vasto quadrado de terra não diferenciado. A massa de terras desta região era penetrada, cercada por todos os lados e cingida por cinco grandes aglomerações de água: os mares Vermelho, Mediterrâneo, Negro e Cáspio, e o golfo Pérsico. A região era muito diferenciada internamente por montanhas, planaltos, desertos e vales fluviais.
Acredita-se que o Oriente Próximo adquiriu a sua estrutura geológica quando dois vastos blocos de rocha dura, o escudo siberiano ao norte e o escudo afro-arábico ao sul, começaram a mover-se em direção um do outro. Na depressão que jazia entre os escudos (a qual finalmente iria conter as quatro grandes massas de água acima mencionadas), sedimentos provenientes dos escudos foram comprimidos e pregueados para cima a fim de criar as monta¬nhas que correm geralmente do oeste para leste através de toda a seção norte da região. Estas montanhas — incluindo as cadeias do Tauro e as Pônticas da Turquia e do Zagros e as cadeias de Elburz do Irã — formam duplo laço (como um algarismo oito alongado no seu lado). Os dois laços se reúnem no nó das montanhas armênias da Turquia oriental. Ambos os laços encerram extensos planaltos (no Irão um deserto) cortados por cadeias de montanhas menores.
Além disso, a grande pressão que pregueou completamente as montanhas setentrionais fez com que o escudo rochoso meridional rachasse e quebrasse, abrindo fendas ou falhas, ao longo de cujas linhas, materiais ora se levantaram para formar montanhas de blocos, ora caíram para formar vales de tendas. Estas montanhas de blocos e vales de fendas se estendiam aproximadamente do norte ao sul, desde a Síria e a Palestina através de toda a extensão da Arábia e do Egito e abrangiam um grande vale de fendas no qual finalmente se formou o mar Vermelho. Ao longo de linhas de fissuras, tanto nas montanhas pregueadas como também nas montanhas de blocos, surgiram picos vulcânicos e correntes de lava se derramaram para fora. Durante toda esta atividade geológica, uma imensa área ao sul e a leste da formação mais importante de montanhas ficou relativamente tranqüila. Esta região de desertos, "a Ilha dos árabes", se estendeu sobre o território dos modernos Iraque, Síria, Jordânia, Arábia Saudita e os estados menores do golfo Pérsico.
Durante os períodos neolítico e primórdios da história, o clima do Oriente Próximo tornara-se deficiente em chuvas. A. precipitação atmosférica era periódica, chegando durante o inverno às seções setentrionais atingidas pelas tempestades ciclônicas vindas da Europa e durante o verão às seções mais meridionais atingidas pelas franjas das chuvas das monções vindas dos trópicos. Esta precipitação atmosférica, concentrada em relativamente poucos dias, era amiúde torrencial e acompanhada por rápida evaporação, rápido escoamento e abundante erosão do solo. Era necessário tomar muito cuidado para resguardar água e solo e controlar a inundação. Em regra geral, elevações mais altas recebiam precipitação mais abundante, e os declives das montanhas em frente às chuvas portadoras de nuvens eram muito mais úmidos do que os declives para sota-vento (efeito de sombra das chuvas). Na grande região interior da Mesopotâmia e da península Arábica, a precipitação atmosférica diminuía rapidamente até quantidades muito pequenas para permitir cultivo regular do solo. Análoga falta de chuvas marcava a África do nordeste, a oeste do mar Vermelho. Em ambas as regiões predominavam verdadeiras condições de deserto. Em conjunto, a combinação da geologia e do clima do antigo Oriente Próximo apresentava condições precárias para a vida humana. No entanto, foi no Oriente Próximo que estavam localizados dois dos grandes berços da civilização.
Observamos primeiramente que, ao longo das encostas e piemontes meridionais das cadeias de montanhas setentrionais, a precipitação atmosférica era regularmente abundante e o clima mais temperado do que nos desertos ou montanhas. Condições analogamente hospitaleiras predominavam ao longo do litoral mediterrâneo oriental, o Levante. É destas áreas que provêm nossas provas mais antigas da revolução neolítica na domesticação de plantas e de animais e na vida de aldeias estabelecidas, desenvolvendo-se numa margem de terra entre as altas montanhas mais agrestes e o deserto escasso de água. Neste nicho propício do ambiente do antigo Oriente Próximo, a vida humana começou a prosperar e a estender-se em direção ao domínio ulterior do mundo natural.
Os seres humanos do neolítico e do calcolítico observavam os grandes rios que surgiam nas bem irrigadas montanhas e corriam através de vastos espaços de desertos, depositando rico aluvião ao longo de seu curso e criando grandes pântanos nas suas desembocaduras. Das cadeias de montanhas do norte brotavam os rios Tigre e Eufrates, convergindo antes de penetrarem no golfo Pérsico. O rio Nilo brotava das montanhas da Etiópia na orla oriental do deserto do Saara e ziguezagueava até o mar Mediterrâneo. Não obstante o forte calor do verão destes vales fluviais, os ricos solos eram convidativos. Para cultivar de maneira segura estes solos de aluvião, entretanto, tornava-se necessário aprisionar e controlar os escoamentos periódicos dos rios. Um projeto tão ambicioso exigia satisfação de duas condições: (1) desenvolvimento de técnicas adequadas para construir sistemas de canais e represas, e (2) coordenação dos esforços de muitas pessoas por sobre grandes distâncias e extensões de tempo. Requisitos técnicos nos dois vales eram um tanto diferentes, pois a subida e descida do Nilo era regular e predizível em volume, ao passo que o Tigre e o Eufrates, especialmente o primeiro, estavam sujeitos a inundação caprichosa. Apesar disso, por volta de 3000 a.C, ambos os sistemas fluviais haviam sido subjugados por projetos de irrigação suficiente para promover agricultura intensiva e maior densidade de população.
Desta maneira a história começou ao longo dos grandes rios, primeiramente na Suméria e um pouco mais tarde no Egito, à medida que as populações que tinham estado dispersas nas regiões de piemonte do Oriente Próximo e da África do Norte puderam afinal concentrar-se em comunidades mais amplas nos vales dos rios férteis pela irrigação. Quando falamos da "alvora¬da da história" queremos dizer o início de um documento escrito de eventos e realizações humanas, mas também queremos dizer a emergência de uma organização social mais elaborada a qual introduziu liderança e administração autorizadas a fim de supervisionar a subjugação dos rios e o cultivo dos campos, como também a fim de pôr em vigor certas distribuições da riqueza acrescida que as novas técnicas e a organização tornaram possíveis. Esta forma de organização social foi o Estado, e com o seu desenvolvimento a política, no pleno significado da palavra, começou a existir.
A partir de aproximadamente 3000 anos a.C. para diante, uma sucessão de estados dominava a organização social humana e escreveu a maioria dos documentos no antigo Oriente Próximo até através dos tempos bíblicos. A princípio estes estados limitavam-se aos vales fluviais, e geralmente os estados mais fortes estavam baseados nestes vales, eventualmente, porém, a forma de estado da organização social humana espalhou-se para as regiões montanhosas e de planaltos ao norte e a leste da Mesopotâmia, para dentro da Síria, da Palestina e da Arábia do Sul, como também ao longo das extensões superiores do Nilo ao sul do Egito. De vez em quando, as pessoas de dentro ou de fora destes diversos estados do Oriente Próximo puderam derrubar os regimes no poder e substituí-los com suas próprias formas de organização política, as quais, em geral, significavam ainda outro estado centralizado.
Torna-se significativo para nosso estudo o fato de que Israel apareceu primeiramente no palco da história como exatamente um perturbador da ordem existente no antigo Canaã. As pessoas que formaram Israel eram, contudo, opostas não simplesmente aos estados cananeus, mas também à forma de estado da organização social como tal, preferindo viver em sistema tribal mais solto. Mais tarde, neste capítulo examinaremos sucintamente a sucessão de estados que dominaram o antigo Oriente Próximo (§9). Nos capítulos que se seguem vamos examinar as origens e vicissitudes da vida de Israel como um rebelde recém-chegado ao mundo dos estados do Oriente Próximo em luta (§14; 24).
Se traçarmos uma linha desde a foz dos rios Tigre-Eufrates sobre o golfo Pérsico para o norte ao longo do curso dos rios, dobrando para oeste até o mar Mediterrâneo e depois para o sul através da Síria e da Palestina até o delta do Nilo do Egito, esta linha aparecerá como um arco, meia-lua, ou crescente. A faixa de terra demarcada por este arco inclui as mais amplas concentrações da população, as áreas agrícolas mais férteis, os caminhos mais fre¬qüentemente transitados, os territórios por cuja posse exércitos mais lutaram e a grande maioria de estados poderosos no antigo Oriente Próximo. Este, assim chamado Crescente Fértil, designa a zona crucial de desenvolvimento econômico e político no antigo Oriente Próximo. Ele abarca e liga os dois grandes vales fluviais num e noutro extremo ao longo de uma rota de fácil acesso que evita os riscos de transporte pelo deserto e as altas montanhas.
Dentro deste grande arco que descreve e liga o Egito e a Mesopotâmia, a população se ocupava em numerosas atividades econômicas. Folgadamente, a grande maioria do povo lavrava a terra, quer nos vales irrigados, quer nas regiões alimentadas pelas chuvas ao longo da orla exterior do crescente na Mesopotâmia e na região montanhosa do Levante. Safras de primeira necessidade eram grão, ora trigo para forragem ora cevada, linha para roupa branca, óleos de oliveira, de ricino, de sésamo ou de açafrão, vinho e cerveja, suplementados por frutas, legumes e hortaliças.
Os animais fundamentais para produtos de leite, carne, lã e peles, eram ovelhas, cabras, gado vacum e camelos (depois de ca. 1200 a.C). Jumentos, mulos e bois eram usados para transporte e trabalho nas fazendas, e cavalos, a princípio para puxar carruagens e mais tarde para a cavalaria, foram introduzidos depois de 1750 a.C. Os animais havia tempo que foram domesticados nas comunidades neolíticas de agricultores. Gradualmente, nômades pastores se especializavam em pastorear rebanhos de ovelhas, cabras e eventualmente camelos, sobre regiões de semideserto, estepe e montanhas não cultivadas normalmente. Estes nômades diferiam muito nos seus hábitos de residência e de movimento, porém estavam geralmente em relações íntimas e recíprocas regulares com os povos mais sedentários. Historiadores passados propenderam a exagerar amplamente o número e impacto de nômades nos relatos deles de movimentos das populações e a conquista de estados. Explicações das origens de Israel têm sofrido muito por causa desta tendência (§24.2.a).
As necessidades de agricultores e pastores nômades eram amplamente satisfeitas pelo seu próprio trabalho, permitindo simples troca, de modo que uma modesta divisão de trabalho parece ter sido praticada nas aldeias e acampamentos da massa do povo. Era coisa diferente nos grandes centros administrativos do estado, onde os apetites das classes governantes procuravam satisfação nos trabalhos de artesãos especializados. O comércio começou igualmente a prosperar. Era comum para estados negociar em recursos valiosos e produtos acabados, tais como metais preciosos, madeira e pedra para construção, equipamento militar, ervas e especiarias exóticas, jóias e cerâmica decorativa. Um sistema de estradas abria-se como leque sobre o Crescente Fértil e se ramificava para o norte até a Anatólia, rumo leste até dentro do Irã em direção da Índia e da China e em direção sul até a Arábia. O comércio marítimo seguia o oceano Índico até a África Oriental e a Índia, e o mar Mediterrâneo até a Grécia, a Itália e a África do Norte.
Um corpo privilegiado de burocratas administrava os grandes estados e suas contrapartes menores. Eles incluíam administradores de impostos e de propriedades régias, diplomatas, comandantes militares, escribas para conservar documentos do estado e treinar novas gerações de burocratas, como também sacerdotes que dirigiam os cultos do estado e muitas vezes administravam extensas posses dos templos. Desse modo, ao lado do estado centralizado no antigo Oriente Próximo aparecia a estratificação social. Uma pequena minoria de pessoas protegidas do governo (desde porcentagem de 1-5 da população total) controlava a maioria do excedente econômico. "Excedente" aqui refere-se ao que é produzido a mais e acima do mínimo exigido para manter a porcentagem de 95-99 de agricultores, pastores e trabalhadores vivos e trabalhando. Soldados profissionais constituíam a espinha dorsal dos exércitos do estado, não obstante, para campanhas mais importantes recrutavam-se freqüentemente as pessoas comuns. O trabalho mais servil, incluindo os projetos monumentais de construção, era freqüentemente realizado por escravos do estado, se bem que a escravidão do estado parece que nunca alcançou a proporção que mais tarde alcançou em Roma. Não era caso raro também para governos compelir legalmente cidadãos livres a contribuírem com trabalho não remunerado para projetos do estado.
7.2. Palestina
A Palestina localizava-se ao longo do arco entre a Mesopotâmia e o Egito num ponto onde o mar Mediterrâneo a oeste e o deserto da Arábia a leste constringiam a área habitada num estreito corredor que se estendia em largura desde aproximadamente 35 milhas no norte da terra até aproximadamente 90 milhas no sul.
A estrutura do relevo do corredor da Palestina, cerca de 150 milhas de comprimento, estendia-se para o norte por outras 250 milhas através da Síria, formando um corredor siro-palestinense entre a grande curva do rio Eufrates e a aproximação do deserto do Sinai ao Egito. Esta estrutura é geralmente descrita como uma série de quatro zonas longitudinais, as quais prosseguem em ordem, desde o mar a oeste até o deserto a leste:
1. a planície costeira;
2. as montanhas ou planaltos ocidentais (a Cisjordânia na Palestina);
3. o vale de fendas (o rio Jordão e o mar Morto na Palestina);
4. as montanhas orientais, regiões montanhosas, ou planalto (a Transjordânia na Palestina).
Embora seja esta uma descrição inicial vantajosa, o terreno é realmente bem mais complicado do que a divisão habitual permite.
Em primeiro lugar, as quatro zonas não continuam ininterruptas ou com a mesma preeminência por todo o corredor siro-palestinense. Por exemplo, a planície costeira é interrompida na Palestina pelo monte Carmelo e igualmente em diversos pontos na Síria. As regiões montanhosas são apenas um planalto no Negueb na Palestina meridional, e a Samaria e a Galiléia estão separadas uma da outra pelos vales este-oeste de Esdrelon e de Jezrael que atravessam completamente os planaltos ocidentais desde o mar até o rio Jor¬dão. O vale de fendas é interceptado por sua contraparte no Líbano por um emaranhado de montanhas a oeste do monte Hermon. As regiões montanho¬sas orientais muitas vezes constituem-se numa meseta ou planalto em vez de uma cadeia de montanhas ou colinas. Na Palestina, em razão de a parte oci¬dental delas ser escarpa íngreme caindo de repente dentro do vale de fendas, as regiões montanhosas orientais parecem montanhas desde a Cisjordânia, ao passo que, desde o planalto oriental do deserto, elas são bem menos sa-lientes.
Além disso, embora as características mais óbvias se estendam ao norte e ao sul, a estrutura geológica subjacente — a qual ficou obscurecida pela depressão norte-sul — está de fato sobre um eixo inclinado desde nor-nordeste até su-sudoeste. Dessa forma, a cúpula das montanhas de Galaad, a leste do Jordão, é realmente uma extensão da massa de montanhas de Judá, a oeste do Jordão. Ademais, as falhas de articulação apareciam em ângulos retos em relação às linhas estruturais principais, criando depressões que se tornaram importantes para o movimento lateral de zona para zona. Algumas estendiam-se de oeste para leste (como na depressão de Aco-lago da Galiléia-Basã, ao passo que outras se orientam de noroeste para sudoeste (como na depressão de Sidônia-uádi Sirhan e na depressão do vale de Esdrelon-uádi Farica).
O efeito líquido da estrutura complicada do relevo da Palestina é que o país se compõe de número regular de sub-regiões marcadamente diferentes que não se comunicavam facilmente uma com a outra. A tendência para auto-suficiência local nestas regiões tornava a unificação da terra, por qualquer que seja o motivo, tarefa difícil. A este respeito, o antigo Israel era aproximadamente como a antiga Grécia. Em ambos os casos, observamos forte sentido persistente de unidade cultural entre um povo dilacerado pela tendência para a separação política interna, que correspondia, em grande parte, ao marcante regionalismo da terra. A natureza do movimento social israelita inicial, a divisão em dois reinos, a hostilidade entre judeus e Samaritanos, como também muitos outros aspectos da história de Israel, só podem ser entendidos no projeto fundamental das divisões cantonais da Palestina.
Como a maior parte do antigo Oriente Próximo, com exceção do Egito e da Mesopotâmia, a Palestina carecia de um grande rio que pudesse ser aproveitado para irrigação. O seu povo, colheitas e rebanhos eram necessariamen¬te alimentados pelas chuvas. As chuvas vitais desprendiam-se do Mediterrâ¬neo desde meados de outubro até começos de abril, caindo mais copiosamente no norte do país e diminuindo notavelmente em direção do sul. A costa norte e as encostas voltadas para o mar dos planaltos, a leste e a oeste da de¬pressão jordaniana, recebiam a irrigação mais completa, enquanto as encostas de barlavento dos planaltos, situadas na sombra de chuvas, recebiam muito menos chuva. Além disso, as quantidades de precipitação atmosférica eram sumamente variáveis de ano para ano, como também de região para região, e o espacejamento das chuvas a tal ponto imprevisível que as safras podiam falhar por causa de demasiada chuva ou muito pouca em pontos cruciais, na estação de crescimento.
Os solos na Palestina variavam muito em sua adaptabilidade para cultivo. Os duros calcários na região das colinas forneciam excelente pedra de construção e se decompunham num rico solo permeável para a agricultura. Grande parte, entretanto, da região das colinas era formada por greda, que se prestava muito mal para culturas, porém tinha a vantagem de desgastar-se rapidamente, de modo que estradas acompanhavam estes depósitos gredosos sempre que possível. Algumas superfícies eram totalmente incontroláveis para agricultura: arenito, freqüente sobre a margem ocidental dos planaltos da Transjordânia e que continha depósitos de cobre; as margens carregadas de sal do vale do Jordão; e a rocha de basalto da Galiléia oriental que ainda não se tinha decomposto em solo como se decompusera em partes de Basã. Grande parte da planície costeira era enriquecida por solo de aluvião arrastado pela água dos planaltos ocidentais, todavia dunas de areia estorvavam a drenagem e mantinham fora de cultivo partes consideráveis da planície. Algumas regiões com rico aluvião eram demasiado pantanosas para cultivar, tais como a planície do Saron ao sul do monte Carmelo e o vale superior do Jordão na bacia do Hulê.
O resultado desta combinação de relevo, precipitação atmosférica e fato¬res do solo foi que áreas para lavoura seguras da Palestina elevavam-se a me¬nos da metade da área total de terra. As regiões de lavoura centrais seguras da Palestina eram aproximadamente como segue:
1. a planície costeira ao norte do monte Carmelo (a planície de Aco) e entre ' a planície do Saron e de Gaza ao sul (a planície Filistéia), e incluindo os va¬les laterais de Esdrelon-Jezrael;
2. os planaltos da Cisjordânia quanto ao seu cumprimento total, desde a Galiléia até um ponto ao sul de Hebron, numa faixa que fazia a média talvez de vinte milhas de largura;
3. alguns pontos do vale superior do Jordão ao norte de Betsã;
4. os planaltos da Transjordânia quanto ao seu cumprimento total, desde Basã até Edom, numa faixa que fazia a média talvez de dez milhas de largura.
Uma comparação dos planaltos ocidentais e orientais como zonas cultiváveis é instrutiva. Evidentemente, os planaltos da Cisjordânia representavam a região agrícola mais extensa e mais produtiva. A zona cultivável de maneira certa na Transjordânia era, na maioria dos casos, mais estreita do que na Cisjordânia, contudo ela mostrava irregularidades inegáveis na forma. Ela se abaulava muito para o interior em Basã e Galaad, porém estreitava-se até uma única fileira de aldeias ao longo do alto levantamento de Edom meridional o qual recebia chuva conveniente, enquanto o Negueb inferior ao oeste imediato era virtualmente árido. Digna de nota também é a variedade, em geral maior, de safras nos planaltos ocidentais. Em geral, a Transjordânia não podia cultivar videiras e oliveiras, de maneira que Galaad sozinha, nos planaltos orientais, podia duplicar a mescla de grão, vinho e óleo que era tão familiar aos planal¬tos ocidentais.
Isto não significa, naturalmente, que toda a terra, fora da terra confiável do coração agrícola, fosse um deserto econômico. Em primeiro lugar, ovelhas e cabras podiam ser pastoreadas nas pastagens que brotavam com as chuvas do inverno. Aqui e acolá, nascentes criavam viçosos oásis em, sob ou¬tros aspectos, regiões áridas, como em Jericó e En-Gedi no vale das fendas. Havia sempre possibilidade de arriscar plantações em áreas marginais, caso uma não fosse totalmente dependente delas; é provável, por exemplo, que uma apreciável colheita de cevada pudesse ter sido obtida na bacia de Bersabéia na média de cada três anos. Da mesma forma, se existia bom motivo para habitar uma região de fronteira do deserto, era possível represar e terracear leitos de uádis, a fim de que as águas de escoamento apanhadas em armadi¬lha suportassem agricultura, como foi o caso durante a monarquia israelita em Jesimon (o deserto de Judá) e em partes do Negueb ou até dentro dos tempos nabateus, romanos e bizantinos.
No entanto, foi precisamente nas terras de lavoura mais seguras das re¬giões montanhosas da Cisjordânia e da Transjordânia que os primeiros israe¬litas viveram como agricultores e criadores de gado residentes. Os territórios de Judá, Benjamim, Efraim e Manassés, nos planaltos ocidentais, constituíam a terra do coração do antigo Israel. É aqui que se localizavam as cidades de Hebron, Belém, Jerusalém, Gabaon, Betel, Silo, Siquém, Tersa e Samaria. Dois importantes baluartes israelitas se mantinham separados desta base central: a Galiléia ao norte, separada pelo corredor dos vales de Esdrelon-Jezrael, e Galaad ao leste, interceptado pela profunda depressão jordaniana. Possivelmente colonizados primeiramente por israelitas das regiões montanhosas de Judá-Samaria, a Galiléia e Galaad sempre foram ocupados de maneira precária por Israel e o regionalismo da terra aparece na suspeita e hostilidade manifestadas freqüentemente, para cá e para lá, entre estas regiões — incluin¬do tensão marcada entre Judá e Samaria, ainda que as duas mantivessem posições seguras no núcleo privilegiado de planaltos ocidentais. Somente sob Davi foram submetidos ao controle de Israel a planície costeira, a depressão jordaniana e a maior parte da Transjordânia. Sempre que o poder político de Israel se contraía, eram estas regiões secundárias que primeiro se perdiam. A região das colinas da Cisjordânia meridional, e as ramificações mais vulneráveis da Galiléia e de Galaad, permaneceram a base física e econômica e a terra natal cultural e espiritual do Israel bíblico.
7.3. Sub-regiões importantes para o Israel bíblico
Contra o fundo das características gerais da geografia palestinense, localizaremos agora com precisão as sub-regiões que tiveram relação mais significativa com a experiência de Israel.
7.3.a. A planície costeira
Quanto ao seu comprimento total, a Palestina estava flanqueada, a oeste, pelo mar Mediterrâneo. Circunstâncias naturais e políticas impediram Israel de se desenvolver em direção ao mar ou aventurar-se sobre o mar. Israel jamais colonizou plenamente a planície costeira nem se tornou potência marítima. Por que motivo?
Em primeiro lugar, a costa da Palestina, com exceção da baía de Aco ao norte do monte Carmelo, não era favorecida por entalhe e o desenvolvi¬
mento de portos era impedido pela sedimentação do delta do Nilo, deposita¬
da por toda a extensão do litoral. No que tange à instalação na planície cos¬
teira, os pântanos refratários da planície de Saron interditavam a ocupação no seu centro e os filisteus ocupavam a parte meridional desejável da planície, onde ela se abria em leque até sua maior largura. Mesmo depois que Davi subjugou os filisteus enquanto ameaça militar, Israel parece ter aceitado a presença permanente dos filisteus na planície (§30.1-3). O litoral mais para o norte, além do Carmelo, também era terra disputada, ocupada freqüentemente pelos fenícios.
Os hábeis exploradores do Mediterrâneo foram os cananeus, que habitavam ao longo da estreita planície costeira na Síria e no Líbano. Ugarit e Biblos eram portos importantes antes de terem sido sucedidos por Tiro e Sidônia nos primeiros tempos israelitas. Sob o nome de fenícios, os mercadores de Tiro e de Sidônia rapidamente se tornaram a principal potência marítima do grande mar interior (§30.4). Fatores fundamentais nesta "abertura ao mar" fenícia foram acessibilidade de bons portos, falta de terra para lavoura, e isolamento do comércio terrestre, que era atraído para Damasco, no interior.
Apesar de relatos na Bíblia de que os primitivos israelitas operavam navios, ou mais provavelmente serviam neles e que alguns dos reis de Israel fizeram esforços corajosos — embora em geral mal sucedidos — por desenvolver uma frota através da saída do mar Vermelho para o oceano Índico, Israel permaneceu essencialmente cercado de terra. A importância principal da planície costeira para Israel era que, através dela, corria a estrada tronco desde o Egito à Mesopotâmia, trazendo comerciantes, diplomatas e exércitos invasores. Além disso, ao norte do monte Carmelo, esta planície costeira penetrava todo o caminho através da Palestina até o rio Jordão, via vales de Esdrelon e Jezrael, através dos quais passavam duas ramificações da estrada (ronco, conforme ela se voltava para o interior em direção a Damasco. Foi aqui que o terreno plano litorâneo foi atraído para o coração de Israel como uma bênção misturada de terra fértil, comunicação facilitada e vulnerabilidade ao ataque.
As cidades filistéias mais importantes da planície eram (do sul ao norte) Gaza, Ascalon, Azoto, Gat e Acaron. Durante a monarquia, e mesmo nos tempos pós-exílicos, havia colônias israelitas ao norte da Filistéia em localidades tais como Gibeton, Jebneel, Gazer, Lod, Jafa, Tell Qasile (nome bíbli¬co desconhecido), Afec, Hefer e Dor, e igualmente ao norte do monte Carmelo em Naalol, Afec, Acsaf, Aco e Aczib.
7.3.b. A região das colinas de Judá
Judá abrangia a extensão mais meridional dos planaltos ocidentais. O seu centro era um alto planalto rochoso, com a média de três mil pés de alti¬tude, fértil a oeste da linha divisória das águas, mas despovoado ao leste onde o deserto de Judá ou Jesimon caía de repente em direção dos rochedos escarpados que davam vista para o mar Morto. O estabelecimento mais importan¬te neste deserto era o oásis de Engadi nas proximidades do mar Morto. Nos rochedos, na extremidade noroeste do mar, uma comunidade sectária, zeladores dos famosos Manuscritos do mar Morto, viviam em virtual isolamento desde cerca de 100 a.C. até 70 d.C. (§10.2.b; 47).
As férteis elevações ocidentais de Judá estavam protegidas pelas acidentadas colinas inferiores da Sefelá ("terras-baixas" ou "contrafortes"), a qual estava separada da escarpa íngreme dos planaltos por um estreito vale de fossos norte-sul. A Sefelá, muito disputada por filisteus e judaítas, continha os estabelecimentos de Tell Beit Mirsim (possivelmente Dabir), Laquis, Maresa, Ceila, Odulam, Soco, Azeca e Bet-Sames. O maciço judaíta continuava cain¬do de repente ao sul de Hebron até dentro do ondulante Negueb, ou região sul, onde o território de Simeão, com os seus estabelecimentos de Bersabéia, Cabzeel, Horma e Arad, foi logo incorporado a Judá. As aproximações a Judá, poderosamente fortificadas durante a monarquia, eram assim decididamente defensáveis por todos os lados, salvo o norte (§33.2; 33.6).
Nos férteis planaltos de Judá situavam-se as cidades de Maon, Carmel, Zif, Aduram, Hebron, Khirbet Rabud (provavelmente Dabir), Bet-Zur, Técua, Etam, Belém e Jerusalém. Por toda esta área as vinhas eram a colheita característica, e trigo e cevada cultivavam-se em quantidade. Plantavam-se oliveiras, mas o frio inverno e a diminuição das chuvas tornavam-nas menos abundantes, mais para o sul quando se penetrava nos planaltos. A região mais fértil de Judá encontrava-se diretamente ao sul de Jerusalém nas proximidades de Belém e de Etam. Ovelhas e cabras criavam-se extensamente por toda a área, e até se apascentavam nas partes acessíveis do deserto de Judá. A estra¬da principal acompanhava a linha de vertente das águas de norte a sul com as aldeias situadas de ambos os lados em sítios defensáveis.
7.3.c. A região das colinas de Samaria
A massa central dos planaltos ocidentais era separada de Judá pela as¬sim chamada Sela de Benjamim. Aqui, exatamente ao norte de Jerusalém, os planaltos caíam de repente vários pés abaixo de sua altura usual. Era isso uma encruzilhada importante, oferecendo o acesso mais fácil até dentro dos planaltos, desde a costa via passo de Aialon e desde a depressão do Jordão via uma estrada desde Jericó. A zona amortecedora de Benjamim entre Judá e Efraim, que continha os estabelecimentos de Gabaá, Ramá, Masfa e Gabaon, era freqüentemente disputada pelos reinos do norte e do sul de Israel e sempre apresentava um problema para a defesa adequada da vizinha Jerusalém.
Ao norte da cúpula calcária de Efraim estendia-se, através de todos os planaltos, um baluarte firmemente defendido de pequenas aldeias bem adap¬tadas ao cultivo de oliveiras e de vinhas. Cidades mais importantes eram Betel, Efra, Baal-Hasor, Jesana, Silo, Sareda e Tafua. Ainda mais para o norte encontrava-se o território de Manassés, onde os planaltos centrais partiam-se em dois braços que se abriam em leque a fim de abranger a bacia de falha em declive, no centro da qual se levantavam os cumes do Ebal e do Garizim, com a importante cidade de encruzilhadas, Siquém, situada entre as duas mon¬tanhas. Outras colônias importantes em Manassés eram Aruma, Jecnaam, Tersa, Tebes, Bezec, Samaria e Dotã. As bacias eram ideais para cultivar cereais e as encostas eram ricas em bosquetes de vinhas e oliveiras.
A ação recíproca entre geografia e política é complexa nesta região. A proximidade dos vales de Esdrelon e de Jezrael ao norte convidava Manassés a espalhar-se por entre eles, ainda que na Bíblia estes vales sejam atribuídos às tribos menores de Issacar e de Zabulon. Foi assim mormente Manassés, que desafiou o domínio cananeu sobre Jeblaam, En-Ganim, Tanac, Meguido e Jezrael nos vales transversais. A expansão de vários vales consideráveis den¬tro das bacias da região das colinas contribuía para boa comunicação inter¬na, porém, o fato de Manassés não estar bem defendido contra penetração desde a planície costeira, desde o vale de Esdrelon, ou desde a depressão jordaniana — mais o fato de que, durante longo tempo, o reino do norte não possuía cidade capital totalmente defensável nesta região (§33.2-3) — significava que as condições naturais aqui não favoreciam a estabilidade política. As regiões de Efraim e Manassés tomadas em conjunto (as assim chamadas tribos de José) foram finalmente conhecidas como Samaria, depois da capi¬tal fortificada construída por Amri, todavia a unidade desta terra do coração do reino do norte estava comprometida por realidades geopolíticas diferentes no maciço de Efraim e nas bacias abertas de Manassés (§33.6).
O monte Carmelo era a extensão mais afastada a noroeste de uma cadeia de montanhas de trinta milhas de comprimento que se dobrava em ângulo fora dos planaltos de Samaria e chegava até a margem do mar. Esta cordilheira, embora nunca atingindo dois mil pés, era assustadoramente escarpada e arborizada — por conseguinte despovoada — e servia para dividir a planície costeira, de maneira que o tráfego era canalizado através de suas estreitas passagens para dentro dos vales de Esdrelon e de Jezrael, os quais se tornavam assim a ligação central de comunicação no norte da Palestina.
7.3.d. A região das colinas da Galiléia
A Galiléia reassumia o terreno montanhoso de norte-sul, elevando-se em dois degraus para o norte desde os vales de Esdrelon e de Jezrael. A Galiléia inferior compunha-se de calcário fragmentado e colinas de greda, não ultra¬passando os dois mil pés, com muitas bacias de falha em declive que se liga¬vam internamente. É aqui que se situavam as colônias bíblicas de Jabneel, Madon, Helba, Gat-Hefer, Jafia, Semron, Rimon e Jotba, no meio de encos¬tas e bacias bem adaptadas à escala israelita preferida de oliveiras, vinhas e cereais. Na seção oriental havia muita rocha basáltica que se estendia até o lago da Galiléia na depressão jordaniana. Esta região era atravessada, de su-doeste a nordeste, pela estrada tronco desde o vale de Esdrelon, que passava ao norte do lago da Galiléia.
A Galiléia superior erguia-se a três mil pés e mais sobre uma ampla área elevada de maneira saliente ao longo de uma escarpa leste-oeste que domina¬va a Galiléia inferior. Na sua parte inferior corria um caminho direto desde o lago da Galiléia até Aco no litoral. Sobre as bordas ou dentro desta fortaleza rochosa situavam-se Hasor, Merom, Cades, Bet-Anat, Bet-Sames, Iiron e Caná. A área possuía potencialmente bom solo e excelente precipitação at¬mosférica, porém não é conhecido até que grau de extensão os primitivos israelitas desobstruíram suas vastidões cobertas de matas e arborizadas. A própria Bíblia fala muito pouco a respeito dessa região, embora exista prova ar-queológica de que uma rede de pequenas aldeias de lavoura, provavelmente israelitas, se espalhavam de fato sobre partes desta região antes da monarquia (§24.1.a).
7.3.e. A depressão do Jordão
De modo geral, a depressão do Jordão não era proveitosa para coloniza¬ção, salvo nuns poucos lugares de oásis tais como Jericó e Betsã, ou onde os ribeirões recentes vindos dos planaltos da Transjordânia desaguavam no vale do Jordão. A água do próprio rio Jordão era demasiado salina para uso agrícola. A depressão jordaniana, sim, proporcionava viagem confortável de norte-sul, embora fosse preciso que as estradas fossem cuidadosamente esco¬lhidas por causa dos uádis tributários, as margas retorcidas e os escoamentos de basalto. O rio, alinhado por um matagal de tamargueiras, cortava um pro¬fundo canal através de terras áridas margosas, desde o sul de Betsã, todo o caminho até o mar Morto, e assim só podia ser atravessado em alguns pontos de vadeação.
O enorme vale, visível desde muitas partes dos planaltos, dava sentido de grandeza e amplitude — por estar no meio de paisagens de altitudes imen¬sas, profundezas e distâncias — a uma terra que mais freqüentemente atraía a atenção para seus ambientes locais miniaturizados. Apesar dos seus declives escarpados e do seu aspecto árido, o vale jordaniano não constituía obs¬táculo intransitável para o movimento de leste a oeste. Onde as regiões nos planaltos, de um e de outro lado do vale, eram similares, a comunicação e um sentido de comunidade unida podiam ser mantidos — como, sem dúvida, aconteceu entre Manassés na Cisjordânia e Galaad na Transjordânia.
7.3.f. A região das colinas de Galaad
Localizada a leste da depressão ou vale do Jordão, defronte a Manassés e Efraim, Galaad erguia-se numa grande cúpula calcária que protegia a vida de pequenas aldeias e estimulava os modelos típicos de agricultura mista dos israelitas. Em contraste, as terras da Transjordânia ao norte e ao sul de Ga¬laad eram menos seguras estrategicamente e propendiam a dedicar-se em primeiro lugar a uma ou outra safra, sendo os cereais especialmente abundantes em Basã ao norte e em Moab ao sul. Galaad era dividido pelo curso este-oeste do uádi Jaboc, porém condições naturais similares em ambos os lados do pro¬fundo uádi contribuíam para uma sensação de unidade em toda a região. Ramot-Galaad, Bet-Arbel, Lo-Dabar, Jabes-Galaad, Fanuel, Maanaim, Ja¬zer, e possivelmente Abel-Meola (porém, talvez, na Cisjordânia) estavam lo¬calizadas nos planaltos, ao passo que Sartã, Safon e Sucot estavam situadas na margem do vale jordaniano onde uádis manavam da escarpada de Galaad. Visto que na Bíblia Galaad era atribuída em parte à meia tribo de Manassés e em parte a Gad, com reivindicações por vezes sobrepondo-se, é ponto dis¬cutível que Galaad fosse colonizado por israelitas partindo da Cisjordânia. As regiões rochosas e arborizadas de Galaad eram lugar freqüente de refúgio em tempos de dificuldade política.
7.3.g. Amon, Moab e Edom
Três reinos do planalto na Transjordânia mantinham freqüentes conta¬tos, na maior parte hostis, com Israel. Amon, ao sudeste de Galaad, era esta¬do misto de agricultura e pastoreio na mesma orla do deserto. Moab, direta¬mente ao sul de Galaad, era platô cultivador de cereais e criador de ovelhas, dando vista para o mar Morto desde o leste. A sua terra do coração estava entre o uádi Zared no sul e o uádi Arnon no norte, porém, quando se sentia forte, Moab controlava o platô para o norte até Hesebon e mesmo até os vaus do Jordão defronte a Jericó. Edom, ao sul do uádi Zared, erguia-se sobre uma longa elevação de mais de cinco mil pés de altura, onde a altitude adicional lhe garantia suficiente precipitação atmosférica para agricultura ao longo da crista do planalto.
O segundo caminho mais importante na Palestina, a estrada real, que se ligava à estrada das especiarias até a Arábia do sul, corria desde a cabeceira do golfo de Áqaba para o norte através de Edom, Moab e Amon em direção a Damasco. Era objeto de intenso tráfego por parte das caravanas de mercadores que se viam obrigados a pagar pedágios sempre que os reinos do pla¬nalto eram suficientemente fortes para cobrá-los. Os midianitas construíram um império comercial nesta região durante os dias dos juízes israelitas, e o mesmo fizeram os árabes nabateus desde a sua inexpugnável cidade de petra nas rochas, em Edom, durante os tempos helenísticos e romanos. Sempre que um rei israelita visava ao controle sobre a Transjordânia, tornava-se imperio¬so obter o controle do comércio lucrativo ao longo da estrada real (§30.4; 33.3).
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